Férecides de Siros (544 a.C.) descreve a oposição de duas dinastias divinas, a da serpente Ófion e a de Cronos, o deus vencedor; depois uma segunda geração divinizada presenciou o triunfo de três deuses: Zâs (Zeus), Crono (o tempo), Chtonea (a Terra), que possui como atributo divino uma árvore alada. Em seu livro (perdido) "As sete cavernas", ele imaginava o mundo como um antro de sete cavernas, fechadas por portas, onde as almas eram encerradas. Ele era apresentado como o mestre de Pitágoras. Outro xamã, Abaris, o cita era um sacerdote hiperbóreo de Apolo. Segundo o que se dizia dele, havia chegado de Hiperbória montado numa seta gigante, podia passar dias sem alimento. Sabia, como fez, Epimênides e como faria Empédocles, acabar com as epidemias. Era capaz de predizer os terremotos. Hermótido de Clazômenas (500 a.C.) foi o primeiro a dizer que "existe na natureza, da mesma forma que entre os animais, um Intelecto que é a causa da ordem e de toda a organização do mundo"(Aristóteles, Metafísica, A, III, 984b 15); como xamã ele observou com sua alma, partindo em viagem, diversos acontecimentos enquanto seu corpo permaneceu no mesmo lugar.
O xamanismo grego posterior, de influência asiática, tem por núcleo o mito de Hiperbórea e a figura de Apolo. Os historiadores situam o xamanismo na Ásia Central e Setentrional; porém observa-se a existência desse culto ancestral também na Europa, com uma origem mais primitiva, associado com as crenças de desprendimento da alma do corpo para atingir os "céus" ou os "infernos", sagas heróicas, adoração aos espíritos familiares, sítios sagrados e animais tutelares.
Os hiperbóreos são considerados por alguns como personagens míticos, outros estudiosos relacionam a sua existência com povos que viviam ao norte, além do vento Bóreas, o vento do norte, na Islândia, na Groenlândia, ou em Spitzbergen, distante ilha norueguesa. Os que acreditam na tese esotérica fazem de Hiperbórea um símbolo da religião apolínea: de fato acredita-se que os hiperbóreos são o povo de Apolo, que eles vivem, às vezes, mil anos, que somente os heróis podem tomar seu lugar, que Apolo dirige-se a Hiperbórea a cada 19 anos (ciclo lunar - número de ouro), quando os astros perfazem uma revolução completa no hemisfério norte, ele visita os hiperbóreos e todas as noites, entre o equinócio da primavera e o surgir das Plêiades, tangendo a lira, o filho de Zeus canta seus próprios hinos.
Os mitos sobre os xamãs apolíneos são uma forma metafórica para descrever seus rituais e experiências espirituais como por exemplo um longo sono em uma caverna como expressão de meditações, retiros, ou até mesmo, como os taoístas chineses ainda praticam em sua caminhada espiritual, "viagens interiores" no qual o espírito circula pelo organismo do asceta para atingir sua purificação. A expressão maior de seu culto apolíneo foi o Oráculo de Delfos, conhecido templo do mundo antigo onde reis e cidadãos iam prestar homenagens e entregar oferendas valiosas em troca das suas profecias.
A história de Delfos se perde no passado dos tempos, lá os deuses, através dos seus sacerdotes humanos, travaram verdadeiras batalhas para o domínio do seu campo sagrado. Seus conquistadores impuseram os ritos e sincretizaram antigas deidades pré-históricas adoradas pelos autóctones, como o culto à serpente Ófion, deusa ancestral da Criação, suplantada pelo másculo guerreiro, o deus Apolo, divindade solar que rege a marcha do globo ardente sobre a Terra e possui como seu atributo ser o oráculo supremo, aquele que tudo enxerga do passado e do futuro dos homens. É ele que com as suas setas invisíveis dissemina entre os aqueus as pestes que dizimam suas hostes antes às muralhas de Tróia. No mito ele derrota a serpente Pithon que domina Delfos e assume o controle do templo onde encontra-se depositado o ômphalos, o umbigo do mundo. Ali sua presença divina se impõe a partir das invasões dos povos indo-arianos que estabelecem o culto aos seus deuses masculinos antropomorfos em oposição às divindade tectônicas adoradas anteriormente no mesmo recinto do templo.
As pítias ou pitonisas tem sua presença registrada a partir da metade do séc. VII a..C. A pítia era colocada sobre uma trípode, junto ao caldeirão de bronze, no ádito, lugar secreto e proibido onde se encontravam a estátua de ouro de Apolo, o túmulo de Dioniso e o ômphalos, o umbigo de pedra, símbolo do centro cósmico. A pítia, que no início do culto das predições devia ser uma virgem, fazia as abluções na fonte Castálida, atordoando-se graças ás fumegações de louro, farinha de cevada, e também, aos vapores emanados de uma abertura da terra que levava ao êxtase profético. Ela tremia, emitia gritos, articulava palavras que os profetas dispunham em versos conforme acreditavam dar fé. A adivinhação era justificada por Platão e pelos estóicos. A teoria de Platão é a da mania, o delírio divino (Fedro). A teoria dos estóicos é a da Providência ou a do Destino Universal, a simpatia que liga todas as partes do universo.(Cícero - Da natureza dos deuses) "O Destino é uma causa dos seres onde tudo está ligado ou então a razão segundo a qual o mundo é dirigido".
Plutarco, que foi sumo sacerdote do templo, e outras fontes assinalam que, durante as sessões normais, a mulher que servia como pitonisa estava em um transe suave. Ela era capaz de sentar-se aprumada no trípode e passar um tempo razoável ali (embora, se a fila de pessoas que pediam conselhos fosse longa, uma segunda e até mesmo uma terceira pitonisa pudessem substituí-la). Ela podia ouvir as questões e respondê-las de forma ininteligível. Durante as sessões oraculares, a pitonisa falava com voz alterada e tendia a cantar as respostas, permitindo-se jogos de palavras e trocadilhos. Após a sessão, segundo Plutarco, ela se parecia com um corredor após uma maratona, ou uma dançarina ao final de uma dança extática.
Em uma ocasião, que ou o próprio Plutarco ou um de seus colegas testemunharam, as autoridades do templo forçaram a pitonisa a profetizar em um dia não propício, para agradar os membros de uma importante comitiva. Relutante, ela se dirigiu para o ádito subterrâneo e foi imediatamente tomada por um espírito poderoso e maligno. Neste estado de possessão, em vez de falar ou cantar como fazia, gemeu e gritou, jogou-se ao chão violentamente e precipitou-se em direção às portas, onde desmaiou. Os sacerdotes e as pessoas que a consultavam, assustados, inicialmente fugiram. Mas voltaram mais tarde e a recolheram. Alguns dias depois ela morreu.
Há pelo menos 2 mil anos atrás Plutarco estava interessado em reconciliar religião e ciência. Na qualidade de sacerdote de Apolo, teve de responder aos religiosos conservadores, que discordavam da noção de que um deus usasse um incerto gás natural para realizar um milagre. Por que não entrar no corpo da mulher diretamente? Plutarco acreditava que os deuses precisavam confiar nas substâncias deste mundo corrupto e transitório para realizar suas tarefas. Embora um deus, Apolo era obrigado a comunicar suas profecias por meio das vozes dos mortais e, para isso, precisava inspirá-los com estímulos que pertenciam ao mundo natural. As meticulosas observações de Plutarco e o seu relato sobre as emissões gasosas em Delfos revelam que os antigos não tentavam excluir a investigação científica da compreensão religiosa.
Plutarco, que foi sumo sacerdote do templo, e outras fontes assinalam que, durante as sessões normais, a mulher que servia como pitonisa estava em um transe suave. Ela era capaz de sentar-se aprumada no trípode e passar um tempo razoável ali (embora, se a fila de pessoas que pediam conselhos fosse longa, uma segunda e até mesmo uma terceira pitonisa pudessem substituí-la). Ela podia ouvir as questões e respondê-las de forma ininteligível. Durante as sessões oraculares, a pitonisa falava com voz alterada e tendia a cantar as respostas, permitindo-se jogos de palavras e trocadilhos. Após a sessão, segundo Plutarco, ela se parecia com um corredor após uma maratona, ou uma dançarina ao final de uma dança extática.
Em uma ocasião, que ou o próprio Plutarco ou um de seus colegas testemunharam, as autoridades do templo forçaram a pitonisa a profetizar em um dia não propício, para agradar os membros de uma importante comitiva. Relutante, ela se dirigiu para o ádito subterrâneo e foi imediatamente tomada por um espírito poderoso e maligno. Neste estado de possessão, em vez de falar ou cantar como fazia, gemeu e gritou, jogou-se ao chão violentamente e precipitou-se em direção às portas, onde desmaiou. Os sacerdotes e as pessoas que a consultavam, assustados, inicialmente fugiram. Mas voltaram mais tarde e a recolheram. Alguns dias depois ela morreu.
Há pelo menos 2 mil anos atrás Plutarco estava interessado em reconciliar religião e ciência. Na qualidade de sacerdote de Apolo, teve de responder aos religiosos conservadores, que discordavam da noção de que um deus usasse um incerto gás natural para realizar um milagre. Por que não entrar no corpo da mulher diretamente? Plutarco acreditava que os deuses precisavam confiar nas substâncias deste mundo corrupto e transitório para realizar suas tarefas. Embora um deus, Apolo era obrigado a comunicar suas profecias por meio das vozes dos mortais e, para isso, precisava inspirá-los com estímulos que pertenciam ao mundo natural. As meticulosas observações de Plutarco e o seu relato sobre as emissões gasosas em Delfos revelam que os antigos não tentavam excluir a investigação científica da compreensão religiosa.
Plutarco também relatou algumas características físicas do pneuma. Seu cheiro assemelhava-se ao de um delicado perfume. Era emitido, - como se viesse de uma fonte -, no ádito em que a pitonisa estava acomodada, mas os sacerdotes e as pessoas que iam consultá-la podiam, em algumas ocasiões, sentir o aroma na antecâmara onde aguardavam as respostas.
O pneuma podia surgir como um gás livre, ou na água. Na época de Plutarco, a emissão tornara-se fraca e irregular, o que causara, em sua opinião, o enfraquecimento da influência do oráculo de Delfos nos assuntos do mundo. Ele sugeriu que, ou a essência vital esgotara-se, ou que intensas chuvas a diluíram. Ou, ainda, que um terremoto havia mais de 4 séculos bloqueara, em parte, esse escoamento. Talvez, considerou, o vapor tivesse encontrado uma nova passagem. As teorias de Plutarco sobre a redução da emissão deixam claro que ele localizava sua origem numa rocha abaixo do templo.
Um viajante da geração seguinte, Pausânias, ecoa a menção de Plutarco ao surgimento do pneuma na água. Pausânias relata ter visto, no declive acima do templo, uma fonte de água chamada Kassotis, que, segundo ouvira, mergulhava no subsolo e emergia novamente no ádito, onde suas águas tornavam as mulheres proféticas
No século passado estudiosos franceses quiseram desmistificar a explicação tradicional de que gases tóxicos emanados da terra levavam à inspiração da pitonisa. Entretanto descobertas recentes demonstram que essa explicação era extraordinariamente precisa. Os geólogos descobriram duas falhas que atravessam precisamente sob o local do oráculo. Ricas camadas de hidrocarbonetos contidas nas formações calcárias da região, emanavam provavelmente etileno, gás que leva a um estado de transe e que poderia ascender pelas falhas onde o templo foi propositalmente construído. A pessoa sob a ação do gás possui comportamento semelhante a alguém que cheirou éter ou solvente, ficando inebriada, o inconsciente liberado e seu estado de percepção totalmente alterado em relação ao comum.
Apesar das polemicas que envolvem o assunto sabemos que o uso de determinados compostos podem alterar o comportamento das pessoas. Os xamãs utilizam produtos alucinógenos desde tempos imemoriais em seus rituais, com determinada frequencia, para atingir o extase e alterar seu estado de percepção e assim poder visualizar outras realidades que estão além da compreensão humana comum. Recém os estudiosos estão conseguindo decifrar o enigma da mente humana e seu potencial ainda não maximizado e desconhecido. Entretanto a tradição oculta ensina que é possível canalizar determinadas energias através de plantas e outros produtos da natureza. Noções como o tempo e o espaço podem ser relativizadas através do uso de compostos químicos ativos. Talvez a explicação de Plutarco aos outros sacerdotes não esteja tão longe assim de uma nova perspectiva holística da realidade contida no universo ao nosso redor. Existe uma tenue linha que separa a compreensão de planos superiores de entendimento e o vício escravizante que leva o ser humano à tortura e ao suicídio. O céu e o inferno estão logo alí, ou melhor, logo aqui, dentro das mentes dos seres humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário