Para pretender uma "Grande Síntese" que estabeleça um ponto de união ou intercessão entre a Física Quântica, com as sabedorias milenares dos mestres Zen e sobre a obra grandiosa de Jung, em especial seu material de "Psicologia e Alquimia" estabeleci um grande desafio, podendo ainda, sem sombra de dúvida, ser considerado um charlatão pelas elites acadêmicas dessas especialidades do conhecimento e principalmente pelos estudiosos da Física tão zelosos de sua hermenêutica. Fazer isso sem ser superficial não é obra fácil.
Dificilmente conseguimos agradar a todos, principalmente quando crenças e ciência se misturam e aquele que pretende opinar sobre tais assuntos sempre fica a merce dos fundamentalistas de plantão das respectivas áreas de conhecimento mencionadas e sempre corre o risco de ser posto em descrédito.
A humanidade segue seu curso, o individuo comum labora, como labora a abelha que esvoaça, com a mesma consciência e busca de conforto, pouco questiona sobre suas origens e destino, carregando seus fardos particulares na esperança de uma vida melhor, tendo a certeza de que ao possuir e acumular bens como a abelha acumula os frutos de sua labuta, garantir sua descendência, possuir poder, terá ao final alcançado sua meta de felicidade absoluta, objetivo determinante da vida.
Entretanto a própria experiência da vida lhe ensina que ao atingir o alvo pré-estabelecido continua com as mesmas dúvidas e incertezas, aspectos primordiais sobre o sentido da existência e alguns vão em busca da religião e outros buscam na ciência as explicações para o seu existir nesse pequeno lapso de tempo newtoniano sobre o planeta, pequena bola de barro, como dizia Voltaire, que vaga pelo imenso Universo.
Minha mensagem não é dirigida aos saudáveis que em seu afã diário, tal a abelha que esvoaça em minha xícara de café vivem de laborar para atingir seus dignos objetivos, cada um com sua função na grande colméia humana, mas é dirigida àqueles que ao constatarem a própria finitude de sua existência material, aos ultimos minutos aguardando seu momento final em alguma cama ou outro local, mas que ainda mantem sua lucidez de reflexão e nesse momento põem sua mente para se perguntar de onde veio e para onde irá (ou nâo) sua essência em futuro próximo.
É desnecessário para àqueles que já tem uma religião definida ler esse ensaio pois já antevem na liturgia de sua própria fé um destino para sua alma no "post morten".
Escrevo essas linhas para os espíritos questionadores, principalmente para àqueles que se acreditam ateus, para os que sofrem por antecipação a angústia de desaparecer para a eternidade e deixar para trás seus fragmentos apodrecidos em algum mausoléu ou suas cinzas guardadas em alguma jarra depositada sobre uma luxuosa lareira de uma mansão ou palácio enquanto sua adega é despojada e seus descendentes brigam pela posse de seus tapetes persas.
Enquanto escrevo essas linhas milhões de partículas atravessam nossos arcabouços de matéria orgânica. Eu e a abelha compartilhamos essa infiltração corpuscular sem acusar nada nossos sentidos, energia pura de distancias planetárias incomensuráveis no espaço e no tempo cruzando essa matéria densa. Essas propriedades do Universo só agora os cientistas começaram a desvendar e tentar entender.
São muitas as correntes filosóficas que procuram explicar tais propriedades da matéria sutil denominada de subpartículas para se estabelecer um entendimento, um marco semântico ao "troço" em si. Mas carecem os especialistas terminologias sagazes para interpretar as razões do Universo. Como dizia Lao Tzu - "Nem sempre as boas palavras são corretas e nem sempre as palavras corretas são boas". Mas assim mesmo se busca o formalismo para estabelecer as fronteiras do conhecimento e as discussões prevalecem entre os doutos. Ainda é a visão cartesiana que predomina nas pesquisas, e o reducionismo domina o estudo dos fenômenos, esse é o método aplicado pelos cientistas. Se tenta explicar o som da orquestra pela forma do violino.
Fisicalistas, monistas materialistas, e outros filósofos que tentam explicar as travessuras do Universo ainda tem dificuldade para explicar-se como seres sencientes e sobre nosso eterno afã em desvendar os mistérios, vislumbrar as engrenagens da Criação. Um mestre Zen veria como ridícula essa busca de explicações mecanicistas para desvendar o segredo da matéria, pois considera que o milagre da existência acontece por si só e é o aqui e o agora que determina a realidade do Zen. Esse é o verdadeiro milagre da vida.
É justamente o paradoxo, como explica Jung, que estabelece o mistério da religião, é a negação dos princípios newtonianos que dá sacralidade aos fatos religiosos como a ressurreição do Cristo ou a ascensão de Maria, pois negam tais milagres os princípios básicos da física e do senso comum. É o paradoxo fenomenológico que tentam explicar os físicos com suas hipóteses sobre o comportamento da energia e da matéria ao nível subatômico e suas experimentações fogem do senso comum. Do Zen nem se precisa mencionar pois o paradoxo faz parte essencial da mensagem do mestre para conseguir que o neófito atinja uma compreensão superior do Universo. Mas enquanto o mestre Zen faz do paradoxo seu instrumento o pesquisador dos fenômenos do quanta se desespera pela falta de consideração do Universo em se adequar aos seus ordenamentos e permitir um acesso melhor ao seu conteúdo. Dentro dessa nova investigação da ciência engatinhamos e portanto as hipóteses fervilham entre os cientistas, uns acreditando numa organização puramente materialista do Universo onde o acaso e a necessidade prospera e outros crendo num projeto cósmico pré-estabelecido muito antes do espaço e do tempo. Alguns tentam provar que as subpartículas conseguem ultrapassar os limites da velocidade da luz, pois precisam explicar como o Universo mantem seu ordenamento desde o Big Bang até nossos dias. Esses são os paradoxos, a grande teia que permeia o Universo em sua incessante atividade que parece perseguir uma meta para nós , simples humanos, uma rota desconhecida.
Somos energia ou matéria? Pelo que compreendem os cientistas somos energia pura, matéria densa que pulsa em determinada frequência que denominamos realidade. Estranha realidade que nos elege autor dessas e de outras letras, de filósofos que tentaram vislumbrar um flagrante divino, cheios de especulações e dogmas que pretendem fixar a divindade em uma regra fixa e absoluta. Tentar colocar Deus dentro de uma garrafa, ou num acelerador de partículas é o objetivo dos alquimistas e dos cientistas. Mas o Tao se nega, se esquiva de ser prescrutado através da lente humana.
Pretendemos atingir a imortalidade? Dizia, em uma conversa informal um ateu, que ao findar a vida tudo acaba. Respondi que temos o livre arbítrio para decidir nosso próprio destino, e como energia nossa Vontade estabelece esse destino e se ele assim imaginava provavelmente com certeza alcançaria seu desejo de aniquilação. Ele olhou-me surpreso, dentro da noção de pecado e culpa imaginava ser isso um tipo de punição divina. Nada disso é real, Deus não pune, ele habita nossa mente, é luz e sombra. Portanto não existe lucro algum em sermos ateus, pois o máximo que pode acontecer se estivermos certos é receber o bônus do retorno à Fonte ao fim de nossa jornada e se estivermos errados teremos o descanso eterno de uma existência no abismo da eterna ignorância.
A dessacralização do homem contemporâneo o coloca muito próximo do australopitecos, ser primitivo que desconhecia a filosofia e não possuía ou não entendia a transcendência do ser. Menos que isso, o individuo contemporâneo vive prisioneiro de suas tecnologias e alienado do seu meio natural. O homem primitivo na trajetória de sua evolução, ao estabelecer o imponderável das forças da natureza como algo maior, transcendente, deu um passo gigantesco na sua diferenciação em relação ao resto da Criação. Ele, na sua evolução cognitiva, se colocou como parte de um projeto cósmico e portanto como herdeiro da divindade. É simples assim.
Quando estivermos partindo para a melhor, destino certo de todos nós, devemos fazer como os golfinhos que fogem do planeta Terra na saga dos Mochileiros das Galáxias: "Até mais, valeu o peixe". O impossível e o improvável nos espera atrás desses bastidores do palco que elegemos como nossa vida. Essa é uma nova aventura que não podemos perder.
Muito interessante, adorei seu ensaio. Às vezes passo horas pensando no tema.
ResponderExcluirObrigado Marcelo !
Excluirhttp://koanzenbudist.blogspot.com.br/2014/06/imortalidade-e-reencarnacao-ou-jornada.html
ExcluirDá uma lida nesse Blog